PROBLEMAS SEXUAIS TÊM CURA

Profª Drª Nivalda P. de Jesus

Sou uma profissional que atua na área interdisciplinar da sexologia, junto a psiquiatras e neuropsicólogos. Tenho formação universitária em Psicologia e especialização em Sexologia Humana e Neuropsicologia. Há mais de duas décadas, venho atuando e ampliando meus conhecimentos sobre anatomia e fisiologia humana. Embora tenha estudado psicanálise, lanço mão das técnicas de terapia sexual, adquirida com a formação de Terapeuta Cognitiva Comportamental.

No texto a seguir, apresento os principais transtornos sexuais que levam os homens a perder qualidade de vida. Tal levantamento foi feito a pedido do Sr. Eduardo (…), responsável pelo Jornal da Santa Casa. Agradeço desde já pela oportunidade de me manifestar sobre assuntos que trazem tanto sofrimento para as pessoas. E também muitos desatinos. Espero que este texto seja o primeiro de uma série. Os problemas a seguir são os que mais me chamaram a atenção, nos últimos seis anos de militância na área específica da Sexologia.

Disfunções sexuais masculinas

As principais disfunções sexuais masculinas são: Ejaculação Precoce, Disfunção Erétil e Desejo Hipoativo. Descrevo a seguir as principais características de cada um deles.

EJACULAÇÃO PRECOCE

Ejaculação Precoce (EP) é a incapacidade de controlar suficientemente a ejaculação, para que os dois parceiros encontrem prazer durante o ato sexual. Definindo subjetivamente, significa que ocorre a ejaculação antes que o homem e/ou sua parceira o desejem. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Tratamentos Mentais (DSM-IV-TR), a EP é dada como a ejaculação que ocorre com estímulo sexual mínimo antes ou durante o intercurso, enquanto aqueles sem ejaculação precoce focam na excitação e na satisfação sexuais.

Já para a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), ejaculação precoce é a incapacidade de controlar a ejaculação, num tempo limite, antes ou durante os 15 segundos iniciais do intercurso sexual (ou na ausência de ereção). Portanto, a CID-10 utiliza critérios de falta de controle e de curto tempo para a ejaculação, assim como quantifica o tempo de ejaculação para um mínimo de 15 segundos, após a penetração.

Prevalência da ejaculação precoce

No Brasil, a queixa de falta de controle da ejaculação e desconforto, por conta dessa anomalia, ocorre em 25,8% dos homens, segundo pesquisas realizadas pela Dra. Carmita Abdo, médica psiquiatra e coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clinicas da FMUSP, pelo qual sou especializada.

Características da ejaculação precoce

  • Ejaculação Precoce ao longo da vida: desde o primeiro relacionamento, 90% ejaculam entre 1 e 2 minutos após a penetração, sendo que 70% permanecem assim ao longo da vida e 30% se agravam com a idade.
  • Ejaculação Precoce adquirida: começa acontecer em um determinado momento da vida, decorrente de vários fatores orgânicos, tais como prostatite e disfunção tireoidiana. Também pode advir de disfunção erétil em conflitos psicológicos ou de relacionamentos.
  • Variação Natural: constitui uma categoria de variabilidade natural do tempo para ejacular, o que depende do nível de estímulo, do estado de relaxamento e de várias outras circunstâncias. Porém, caracteriza-se por ejaculações rápidas e periodicidade irregular, em que a capacidade desse homem retardar a ejaculação se alterna entre menor e nula.
  • Disfunção ejaculatória tipo Ejaculação Precoce: o portador tem sensação subjetiva de ejaculação rápida, preocupação com ejacular precocemente ou com falta de controle sobre a ejaculação (está dentro dos padrões esperados: 5 a 25 segundos). A queixa está relacionada a problemas de ordem psicológica ou relacional.

Aspectos psicológicos

Muitos dos meus clientes me trazem um relato de que não são capazes de controlar a ejaculação e sentem-se inseguros. Além do desconforto, sofrimento, insatisfação e muito medo de enfrentar uma nova “transa”.

Como se sentem as parceiras

Infelizmente, nosso cérebro nem sempre consegue ver o óbvio. Normalmente, a mulher acredita que o problema está nela. Que já não está mais tão atraente, que seu parceiro deve ter outra, que com ela a relação sexual é muito rápida, porque seu parceiro não a ama, como em outros tempos (fantasias).

A mulher busca ajuda por sentimento de culpa, alegando que precisa melhorar seu relacionamento ou salvar seu casamento. Quando a investigação psicológica se aprofunda, o caminho que adoto nas terapias é procurar demonstrar (quando é o caso) que a origem real do problema não está nela, somente. E nesse momento a terapia deixa de ser individual e passa, muitas vezes, para terapia de casal. Em 23 anos de clínica, já encontrei mulheres que em seus depoimentos relataram que passaram uma vida conjugal de mais de duas décadas com dificuldades conjugais, sem obterem prazer. Devido a problemas de ordem pessoal, nunca procuraram um especialista. Quando inquiridas sobre o assunto, a resposta era: VERGONHA.

Tratamento

A boa notícia é que, dependendo do tipo da Ejaculação Precoce, há os seguintes caminhos:

  • Para os homens que sofrem com a EP ao longo da vida, existem medicamentos que retardam a ejaculação. E a terapia sexual faz toda diferença.
  • A EP adquirida necessita de tratamento medicamentoso para a condição médica de base. E psicoterapia para a causa psicológica.
  • Para a EP como variação natural, basta procurar um terapeuta sexual que tenha uma abordagem cognitiva comportamental. Com uma boa psicoeducação, geralmente é suficiente para que o paciente recupere a confiança e tenha de volta o controle da relação sexual.
  • Aqueles com Disfunção Ejaculatória tipo EP se beneficiarão de orientação do terapeuta sexual, psicoterapia e/ou terapia de casal.

A Ejaculação Precoce traz como resultado dificuldades interpessoais e problemas psicológicos, se não for tratada.

Moral da história

A Ejaculação Precoce não é motivo de Vergonha. MUITA GENTE TEM! O importante é que a pessoa reflita e tome uma atitude. De preferência, é melhor procurar um profissional. Nunca é demais passar por um processo de avaliação. Pode prevenir desgostos futuros.

DISFUNÇÃO ERÉTIL

Disfunção Erétil (DE) é o termo preciso, o qual substitui o popularmente conhecido como impotência sexual, que pejorativamente é atribuída ao homem (aquilo que as pessoas chamam malignamente de “brochação”). Essa disfunção incapacita a obtenção de manter ereções rígidas e de alcançar a satisfação sexual. Entretanto, há tanto mulheres quanto homens que ainda têm dúvidas sobre esse problema, que cresce anualmente em todo o mundo e possui estreita relação com a saúde.

Pesquisas demonstram

A DE é a mais comum das disfunções sexuais do homem. Atinge em algum grau cerca de 50% dos brasileiros, após os 40 anos. É multifatorial e pode estar associada a vários motivos:

  • Maus hábitos de vida, tais como alcoolismo, tabagismo e consumo de drogas ilícitas (maconha, cocaína e crack, principalmente).
  • Consumo demasiado ou descontrolado de medicamentos (inclui-se aqui a automedicação).
  • Fatores psicossociais, de personalidade, conflitos de relacionamentos, dificuldades econômicas e questões culturais.
  • Doenças hormonais: diabetes, problemas endócrinos e queda de testosterona (hormônio sexual masculino).
  • Doenças vasculares, que entopem as veias e impedem a chegada de sangue ao pênis: hipertensão arterial, traumas, arterosclerose e cirurgias.

Como a DE pode se manifestar?

A De pode se manifestar em diferentes graus e faixas etárias, afetando jovens, adultos e idosos. Ela pode ocorrer de forma progressiva, levando até mesmo meses ou anos para se consumar. Quando o homem perceber que seu desempenho sexual não está satisfatório, que não consegue ter ou manter a ereção; quando notar significativa diminuição da libido (desejo sexual); quando surgirem dificuldades na ejaculação ou na obtenção do orgasmo; é hora de buscar ajuda. Antes que as dúvidas cresçam, é aconselhável que procure um Urologista, para que seja feita uma avaliação e esclareça os principais questionamentos sobre o assunto.

Tratamento

O primeiro passo a ser realizado para detectar a origem da disfunção erétil é fazer uma avaliação física global. Saber se ela é recorrente ou ocasional. E também procurar saber, antes de tudo, se o problema é orgânico, comportamental (psicológico) ou ambos.

  • O médico deverá fazer o teste de intumescência peniana noturna, pois vários fatores podem prejudicar o fluxo de sangue no pênis, anulando a capacidade do homem manter uma ereção plena.
  • Se o distúrbio sexual for recorrente, isso pode revelar problemas maiores, que precisam ser investigados e tratados. Pode derivar de diversos fatores orgânicos, que podem causar seu aparecimento. Diabetes, colesterol muito elevado, hipertensão arterial, uso de drogas e obesidade são os mais comuns. Esses problemas (entre outros) podem prejudicar o fluxo de sangue no pênis, impedindo o homem a ter uma ereção plena.
  • Já quando o distúrbio for ocasional, podem ser fatores como cansaço, ansiedade, álcool, problemas financeiros ou de relacionamentos.

A boa nova desse problema

Nos dias de hoje, sua vida sexual não pode ser abalada por esses fatores. Independente do tipo de DE, tem como ser tratada. Quanto menos preconceito ou medo de procurar ajuda, mais rápido poderá ter o controle da situação. O que mais me chama atenção é que homens muitos jovens já têm queixa de ereção. Portanto, não deixe o estresse, a raiva, a mágoa e outros fatores criarem ninho em sua cabeça. Procure um profissional de sua confiança.

DESEJO HIPOATIVO

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV-TR-2002), Desejo Hipoativo (DH) é uma disfunção sexual caracterizada pela deficiência ou ausência persistente ou recorrente de desejo ou fantasia para a atividade sexual, conduzindo a acentuado sofrimento e dificuldades interpessoais. Essa disfunção sexual pode ocorrer tanto em homens como em mulheres. Em palavras simples, é a falta de desejo.

No consultório, a classe feminina é a que mais procura ajuda. A mulher se sente muito culpada, por não ter desejo sexual pelo parceiro e fica mal consigo mesma. Primeiro, porque não tem lubrificação vaginal e segundo porque suas caricias chegam a irritá-la.

Muitas mulheres passam anos fingindo compartilhar com os prazeres do parceiro, porém ficam desejosas de findar com o momento do ato sexual. Os homens que sofrem com a falta de desejo não buscam ajuda por vergonha, enquanto outros sequer percebem que tem algo errado com a sua vida sexual.

Como as pessoas lidam

A falta de desejo sexual muitas vezes leva o individuo a se dedicar de uma forma exagerada ao trabalho. Já tive clientes que ficavam até altas horas da madrugada no escritório, e quando questionados sempre encontravam uma justificativa para tal. Sua vida conjugal acabou comprometida, perderam vários amigos, porque nunca tinham tempo para nenhuma outra atividade a não ser trabalhar. Enfim, criaram vários problemas de ordem interpessoal. Mas nunca se deram conta que o problema era de ordem sexual.

   Outro exemplo é de um rapaz que praticava mais de 10 horas de exercícios físicos por dia, comprometendo sua vida profissional e afetiva, alegando que isso lhe trazia muito prazer.

   A psicanálise tem uma explicação para esse comportamento: sublimação. É um mecanismo de defesa, isto é: o inconsciente desloca energia de certas tendências condenáveis, ou inaceitáveis pelo próprio individuo, para realizações consideradas “superiores”.

Há dois lados da moeda: o individuo sacrifica seu prazer sexual, seus relacionamentos interpessoais, em detrimento de um sucesso profissional que lhe rouba toda a atenção. É assim que aparecem os destaques profissionais e os grandes vultos intelectuais. Mas há aqueles que sacrificam o prazer em nome de leviandades.

O que causa o DH?

Sabemos que a etiologia tem como responsáveis vários fatores envolvidos, desde os orgânicos até os emocionais. Entre eles, destaco:

  • O Hipotireoidismo, o aumento da prolactina na mulher, é um desequilíbrio hormonal, que pode causar esse transtorno. Assim como o uso de medicamentos antidepressivos.
  • Doenças como diabetes, prostatite, infecções ginecológicas, doenças cerebrais e de nervos, relacionadas com órgãos genitais, são alguns dos muitos problemas de saúde que podem desenvolver essa dificuldade no desempenho sexual.
  • O estresse, a preocupação, a insônia, uso de drogas psicoativas ou não, cansaço físico ou mental e até doenças relacionadas à terceira idade.

Esses são apenas alguns dos muitos fatores que podem desenvolver a falta de desejo, tanto no homem como na mulher.

Tratamento

O tratamento é um grande desafio. Pode ser através de medicação, orientada por um médico de sua confiança, baseada em derivados de hormônios ou (dependendo da queixa e da exclusão de sintomas) a psicoterapia sempre complementa o tratamento, para obter um resultado com maior eficácia.

No consultório, o tratamento é um processo de autoconhecimento e releitura da própria vida, dando novos significados a fatos que foram empurrados para debaixo do tapete, numa tentativa de esquecer. É uma forma de se livrar do sofrimento que o acontecido trazia no passado. Nesse acompanhamento, o homem é orientado a pensar e agir de forma assertiva. Aprende técnicas de mudanças de comportamento antes e durante o ato sexual.

O PROGNÓSTICO É O MELHOR QUE SE PODE ESPERAR. PROCURE UM PROFISSIONAL HABILITADO EM SEXUALIDADE HUMANA E GARANTA UMA QUALIDADE DE VIDA SEXUAL SAUDÁVEL.